sexta-feira, maio 11, 2007

My feelings, exactly
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Na sequência de uma conversa ontem à noite.
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Dez anos que mudaram a Europa, Teresa de Sousa, no Público
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Quanto ao que [Tony Blair] fez pelo seu país, já quase tudo foi dito. A Cool Britania está de bem consigo própria e com o mundo. "É um país que lidera porque adquiriu a característica essencial do mundo de hoje - a interdependência." Londres, que rivaliza com Nova Iorque como a cidade mais cosmopolita e mais atractiva do mundo, é o símbolo. Provavelmente, os britânicos, que já o recuperaram in extremis noutras ocasiões, não vão precisar de muito tempo para fazê-lo outra vez. Os analistas, de direita ou de esquerda, reconhecem que ele transformou a paisagem política britânica ao ponto de o seu "herdeiro" possivelmente mais autêntico não ser Brown mas Cameron. O blairismo não é um subproduto de Thatcher, como alguns conservadores gostam de dizer, mas uma ideia política nova para o século XXI.O seu maior mérito? Ele próprio o explica ao dizer que atingiu "a maturidade política quando a guerra fria chegava ao fim e o mundo entrava numa revolução política, económica e tecnológica". O seu mérito esteve na capacidade de perceber a dimensão e o sentido da mudança. Na vida das pessoas como no mundo. Rompeu as fronteiras ideológicas. Nisso foi o irmão mais novo de Clinton.Mas talvez a melhor homenagem à sua dimensão política se encontre do lado de cá da Mancha. O blairismo, dito ou envergonhado, tornou-se na referência da maioria dos governos europeus. De esquerda ou de direita. E se a Europa começou a perceber desafios da globalização e decidiu, mal ou bem, enfrentá-los, foi em boa medida graças a ele. Esqueçam-se, pois, os velhos clichés sobre o que é ser "bom" ou mau" europeu. "Blair foi a grande figura política da Europa até à chegada de Merkel. O Presidente Chirac esteve ausente nos últimos cinco anos e o chanceler Schroeder foi patético desde o início." Boa síntese de um diplomata de Bruxelas ao Financial Times. O Kosovo, em 1999, é o momento que define a sua visão internacional. É ele que mais se bate pela intervenção. É a partir da tragédia dos Balcãs que impulsiona a política de defesa europeia. Junte-se à coluna do haver a sua defesa do alargamento, a ajuda a África ou a percepção da importância vital das alterações climáticas. E, naturalmente, a sua compreensão de que, no mundo em desordem que emergia do 11 de Setembro, o lugar da Europa era a Ocidente. Sim, há o Iraque, que foi a sua tragédia. Reduzi-lo a isso seria não perceber nada do que se passou na Europa nos últimos dez anos.

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