sábado, fevereiro 19, 2005

Hoje, queria ver se despachava a série Brasil. Bem sei que já estou em Buenos Aires, mas isto finalmente está a acelerar e é possível que nos próximos dias nao vislumbre um computador que seja. Pelo que a série Buenos terá de ficar para depois (nao demasiado, espero).

Logo, irei referir-me a um dos elementos mais míticos do Rio de Janeiro: o seu tamanho. Pois bem, é verdade que tem dez milhoes de habitantes, amontoados uns em cima dos outros, ja que o que nao é praia é montanha, e tudo o que e montanha leva com favela em cima desde que tenha uma inclinacao inferior a 150%. Mas, aqui para nós, a cidade é mínima, pelo menos na parte que me interessa.

Dois exemplos:

Aqui em Buenos Aires estou em casa da tripeira Catarina, cujo elogio ficara para outros dias. O que voces nao sabem, porque eu nunca vos disse, é que tinhamos ficado de ir ter com ela durante o Carnaval do Rio para combinarmos a vinda para Buenos. Sucede que, por razoes de conhecimento mundialmente estabelecido, nao vamos com telemoveis para a rua e que, por razoes que se prendem com as tarifas telefonicas e um certo monopolio das redes fixas na malha urbana do Rio, nao se costuma ter telefones em casa. Pelo que, logicamente, nao combinamos nada.

Problematico? Que nada. Estavamos nos a beber a nossa caipirinha da praxe (ou seja, a 3a da tarde) na barraca do nosso bom amigo Marcos, o eximio cortador de Lima e Cocos, e proxeneta profissional, quando uma delicada estrangeira se comecou a passear a nossa frente na areia. O Marcos (sim, claro, acham o que, que nos somos assim tao atiradicos?), mal lhe fizemos notar o ar desorientado da fragil flor que baloucava a nossa frente, convidou-a a juntar-se a nos. Assim descobrimos que a referido botao de rosa se chamava Lovisa, era sueca e falava fluentemente o portugues e o espanhol. Apos uma das mais estranhas dancas de acasalamento que os meus olhos irao presenciar (Ricardo e Lovisa, numa capoeirada de praia que acabou com a simpatica loira no chao, apos pontape de Ricardo na sua canela), e de termos estabelecido um ponto de contacto (Erasmus em Florianopolis, como o Camara), dissemos-lhe que iamos para Buenos Aires a seguir.

Aí ela conta que estava desorientada porque tinha vindo a correr de uma casa em Copacabana, e o seu amigo/gay/frances/preto(o famoso 4 em 1), Louis (pronto, 5 em 1), que tinha ficado de vir de onibus, nao estava no sitio combinado. Achando estranha a combinacao, questionamos onde ela estava, ao que ela retorquiu que estava numa casa com mais sete pessoas, em Copacabana, que incluia uma simpatica portuguesa, a viver em Buenos Aires, que se chamava Catarina e tinha passado os ultimos tres dias a tentar falar com 3 tugas que tavam em Ipanema.

Aqui abstenho-me dos tradicionais comentarios foleiros e frases feitas. A Catarina ia-se embora nesse dia, e ja nao nos cruzamos. A bela sueca ia-se nesse dia para S. Paulo com o seu 5 em 1 que, diga-se, como bom 5 em 1 que é, nao podia ter chegado tarde: teve duas horas sozinho, sentado a espera numa barraca ao lado.

Ah, diz o leitor, mas isso e uma mera coincidencia, e nem sequer muito boa, ja que nao se cruzaram com ela, sequer.

Ah, o tanas, respondo eu. O Camara encontrou a Cristi, e o Ricardo a Laura, no Nuth (unicas amigas que sabiam ca estar). Mais, os nossos segunda via (se o Cesar falhasse, tinhamos outra casa no Rio, nao somos tao loucos que viessemos para o Rio sem casa no Carnaval), bom, esses era todos os dias.

Apresento uma hipotese para isto, que justifica o pouco interesse (para alem do que Albufeira possa ter para um bife no Verao, e descontada a devida beleza natural) que o Rio me despertou: o facto e que 95% do Rio e inacessivel, pelo menos para o individuo com o minimo instinto de sobrevivencia, e o turista que nao queira limitar-se a viver o amor no Rio (post seguinte), ou a ver as vistas, acaba por deslocar-se para o sitio onde o brasileiro medio (melhor, nao potencial assaltante e assassino), com bom aspecto (porque incuravelmente vaidoso, narcisista e epicurista) e simpatico, ou seja, os 5% da populacao que resta, e que e menos ainda no Carnaval (deste 5%, 3% deve sair da cidade), vai: o pedaco de areia entre o arpoador e o Vidigal, as praias de Ipanema e Leblon, e muito especialmente, o km 9 de Ipanema.

Ou seja, o Rio que me foi dado ver pareceu-me uma cidade pequena, bonita, provinciana e, porque muito fechada, com uma cultura muito propria. O que nao e necessariamente mau.

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