segunda-feira, janeiro 12, 2004

Ocorreu-me o porquê de, mesmo com a deliberação do conselho europeu, Manuela Ferreira Leite continuar fixa no cumprimento do dpacto de estabilidade. Ao contrário do que se pensa as razões não são económicas nem políticas. São históricas. Senão vejamos:

- neste país à beira mar plantado, a centralização do poder real veio a ser operada progressivamente desde o fim da Reconquista (em ritmo acelarado desde D. João II).
Mas a primeira pessoa a conseguir concentrar em si todo o poder, e utilizá-lo de forma razoável, nem sequer era Monarca: foi o Carvalhão (José Sebastião de Carvalho e Mello, conde de Oeiras, marquês do Pombal). Claro, todo o conhecemos por causa do terramoto.
Mas o facto é que o homem já era Ministro do Reino antes de isso. Exterminou todos os que se lhe opunham, mais que todos os Távoras.
Na base deste poder estava o sucesso da sua política financeira. O mercantilismo, que visava a acumulação de ouro, diminuindo as importações era a sua fé.
É o antepassado clássico do equilíbrio orçamental:o Estado não pode gastar o que não tem. Supostamente, era a segunda figura do Regime. Governou durante 27 anos. Foi preciso a filha de D. José suceder-lhe para, já velho, e incapaz de se opôr à andromaica (?) fúria da Rainha, abandonar (riquíssimo) o poder.



Ao seu "reinado" seguiu-se o reinado pacífico de d. Maria I, que morreu louca e exilada no Brasil. Após as Invasões Francesas, correu tudo lindamente: guerras civis, revoltas populares, independência do Brasil... foi preciso o Marechal saldanha intervir para haver um mínimo de paz. Mas infelizmente os ingleses não nos ligavam um chavo , deixaram falir um banco que levou o Estado à bancarrota, e os republicanos e a Carbonária não gostavam de tanta calmaria. Resultado: 20 anos de contestação, uma Revolução e 16 anos de Guerra Civil (também conhecida como Iª República).

Mais uma vez o exército interviu.

E aqui chegamos à 2ª inspiração da Manuela:

- um jovem professor de Direito chega a Ministro das Finanças. A única coisa que faz é estabilizar as contas públicas, instaurando um proteccionismo feroz. O objectivo já é, claramente, o equilíbrio órçamental.
Resultado: Salazar elimina todos os que se lhe opõem e governa durante 40 anos.



Depois de Salazar, o caos: uma Primavera, um Verão Quente e quase duas dezenas de governos em 10 anos. Um jovem professor de Economia, que gosta de dar passeios de carro à Figueira da Foz, torna-se ministro das Finanças.
Ignora os seus adversários, abre a Economia (que os tempos são outros, de subsídios) e come bolo rei como lhe apetece. Governa sozinho durante 10 anos.
Quando se cansa, vai-se embora. Talvez volte. Em todo o caso, é amigo e colega de curso da Manuela.



E depois, o impensável: novo desequilíbrio nas contas públicas. As indicações históricas são claras: o Ministro das Finanças que restabelecer o equilíbrio orçamental governará (não necessariamente como 1ª figura: lembremos Pombal e os primeiros anos de Salazar) durante o tempo que lhe aprouver, ou até ficar senil e morrer.



Daí a sua conduta. Daí a alteração da orientação europeia não interessar. Daí o desinteresse pelo emprego e pelo crescimento económico no curto prazo.
A mulher é megalómana. Quer governar sozinha. E durante muito tempo (pelo menos até castigar o impúdico rapaz que lhe mostrou o rabo há uns anos).



Sem comentários: