quarta-feira, novembro 26, 2003

Prometi ha tempos falar da problematica das expressoes religiosas.

Para quem tenha lido esse post, ou conseguido abrir os links que la havia, a questao surgia com a proibicao da utilizacao do veu por raparigas islamicas, nas escolas publicas. Como estamos em Franca, a situacao escalou para a manutencao do Estado Laico, e nqo arranjaram proposta melhor que banir toda e qualquer ostentacao de simbolos religiosos na Escola (acho que nao o fizeram, mas que foi proposto...). Nisto tenho de concordar com o Liberdade de Expressao, se bem que nao nos mesmos termos. De facto, o logico e o que acontece no Reino Unido, onde os policias sikh podem usar turbante. Os franceses nao ficam a dever nada a ninguem em termos de xenofobia (lembram-se do Le Pen?) e tentativa de manter as aparencias , por via do apaziguamento institucional. Ainda tenho, para mim, que a grande desgraca para os franceses nas ultimas presidenciais, nao foi tanto perceberem que eram, possivelmente, o povo mais xenofobo da Europa (com as possiveis excepcoes da Suica e da Austria), como realizarem que, agora, isso surgia como obvio ao olhos do mundo.

Mas tergiverso. O essencial da questao e, parece-me, a insita xenofobia europeia. O medo do outro e do diferente. E assiste-se a um ressurgir da questao anti-semita. Esse monstro a que aludi no meu primeiro post (e por causa do qual tantas discordancias ouvi). Mas parece-me que nao fui uo unico a reparar no assunto. Por todo o lado, nos media, comecam a aparecer comentarios a essa situacao. No "The Economist", no "DN", no "Publico", no "El Pai­s", ate na Alemanha. Na "Time" escreveu-se o artigo que me pareceu mais interessante: defendendo que se observa um ressurgir do anti-semitismo, opina que mostra uma face mais suave, ja sem banhos de sangue. Olhando para a Historia, apetece-me dizer: ate quando?

Claro que Israel agora tem um Estado. E nao e por acaso que esse mesmo Estado esta armado ate aos dentes. Nao so a sua posicao, como a sua Historia, e a Historia da Diaspora, ensinaram-lhes que se devem defender. Pelo que surge outra forma de anti-semitismo: nao atacar o povo, atacar o Pais. Ha uma falacia neste procedimento: nao concordando de todo com a actuacao do Governo Sharon (as saudades que tenho de Rabin...), nao a confundo com o Estado que governa. E muitos fazem-no.

No fundo, no fundo, muitos achamos que os judeus tem culpas pelo que lhes foi acontecendo. E ate o Aviz, referindo-se, de forma obliqua, a  questao do anti-semitismo, considera haver uma grande tendencia para a vitimizacao na comunidade shoa. Sao formas encapotadas de discriminacao, de justificacao pelo que lhes infligido ao longo da Historia. Nao considero o Aviz, de todo, anti-semita. Mas ha algo de anti-judeu em todos os Europeus. Habita na psique colectiva.



A Xenofobia tera a sua etiologia em fenomenos explicados pela Sociologia. Nao sei se o anti-semitismo tambem o tera. Mas se considero a Xenofobia algo muito europeu, o anti-semitismo, como especie, tendo uma relevancia impressionante a ni­vel mundial, tem-no, mais que em todos os outros sitios, na Europa.

Partilho, em ultima análise, da opiniao do Aviz: nao sei. Nao sei mesmo. Mas acho que e uma questao fundamental. E que ha a tendencia para fugirmos dela.



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