quinta-feira, junho 21, 2007

São João
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Poucas pessoas saberão isto, mas as festas de São João, no dia 24 de Junho, são as mesmas festas que durante séculos celebravam o solísticio de Verão, o dia mais longo do ano, que agora ocorre a 21 de Junho (ou seja, hoje, embora pelo tempo não pareça).
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No decurso dos anos a Igreja cristianizou a festa do solísticio, estabelecendo que o nascimento de João Baptista tinha sido a 24 de Junho. Mesmo assim, do ponto de vista estrictamente cristológico não faz sentido que se acendam fogueiras sobre as quais se salta, se dance nas ruas, se lancem coroas de flores à superfície das àguas e, sobretudo, se estabeleçam altares a semidivindades a quem se reza, como sucede em Portugal, França, Alemanha, Irlanda e em vários países nórdicos.
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Num mundo tão perfeitamente secular como é o dos países acima referidos, não deixa de ser fascinante como se mantêm rituais pagãos de purificação e de fertilidade cujas origens se perdem na penumbra das eras. Uma razão para a Igreja Católica ser (um)a (das mais) antigas instituições existentes reside na sua capacidade de absorção de tradições que lhe são estranhas, um pouco como o Império Romano tão bem fazia.
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As tradições e os símbolos têm um poder e uma capacidade de sobrevivência que não se podem apagar sem mais, e um significado que até para nós esquecemos. Para quem, ao longo de mais anos do que aqueles que me proponho a contabilizar, e em mais sítios do que aqueles que já consegui visitar, decidiu celebrar os velhos rituais pagãos hoje, como deveria ser, ou no Dia de São João, onde a Igreja habilidosamente os escondeu, arranjar uma fogueira por cima da qual se possa saltar e junto da qual se pode festejar é claramente mais importante do que a desculpa que arranjámos para o poder fazer.

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