OS ANTIGOS SABIAM MUITO III

Isto de fazer especulação filológica sem saber nada do assunto ainda vai dar merda, mas como isto é só para amigos...

Se há algo que os Antigos percebiam mesmo, era do conceito de herói, de figura maior que a vida. Daí que os Mitos tenham provido deles (e da tradição cultural, muitas vezes oral).

Analisemos ideias de algumas figuras actuais que nos são vendidas como tendo estatura épica:

- na política, por exemplo, a figura de FDR (Roosie, para os amigos), é aumentada porque superou a deficiência motora que a Polio lhe inflingiu;

- na música, quem não se lembra de Beethoven, esse lendário surdo?

- na escrita, e à falta de melhor, Jorge Luis Borges... cego;

De facto, a ideia de grandeza é, para nós, uma medida das dificuldades impostas a uma pessoa pelo, à falta de melhor expressão, fado. Limitações físicas são, normalmente, um exponenciador de grandeza.

Os Gregos, para não variar, chegaram lá primeiro. Toda a sua cultura se baseia na ideia do Herói trágico, aquele que:

- numa primeira fase, tem de sofre as setas e dardos do atroz destino (Shaskepeare fica sempre bem...) , independentemente do que faça, ou que,

- numa segunda fase, tem de sofrer porque a sua grandeza é uma afronta (nemésis) aos Deuses e

- numa última fase, que Niestzche verberou violentamente por abrir caminho à moral cristã re extinguir o espírito trágico, ser aquele que de alguma forma ofendeu, culposamente, os deuses.

Com Eurípides, Sócrates e a moral cristã, este elemento trágico deixou de estar no primeiro plano da vida cultural do Ocidente até ao Renascimento (aí, como exemplo de ressurgimento, veja-se o Hamlet de Shakespeare).

Mas isso não implica que tenha desaparecido. Especialmente com o Romantismo, revive a ideia do herói como alguém maior que a vida. Talvez por isso todos os exemplos modernos de grandes homens actuais sejam relativamente recentes.

O facto é que a ideia do Herói, se bem que alterada, parece persistir na cultura popular com vários elementos do trágico ainda arrastados.