Tenho ouvido falar, a propósito da morte do Papa, de histeria mediática e manipulação dos meios de comunicação social pelo Vaticano. Deixem-me dizer-vos que concordo.

Mas por uma vez, tenho de aplaudir ambas. Ter um púlpito moral (como o Papa, só vejo Nelson Mandela) que gere esta reacção tem vantagens.

E a mensagem de que a vida vale a pena até ao fim, a tentativa de valorização da pessoa na velhice, na doença e na iminência da morte, mesmo que não se concorde, merece o maior respeito.

E isto pela forma e suprema dignidade (palavras caras, mas não as uso abusivamente aqui) como foi escolhida fazer passar esta mensagem. Pela primeira vez na minha vida vejo alguém morrer em directo, com pormenores de tudo, dos detalhes médicos às expressões de dores pessoais à janela, porque o moribundo o quis fazer. Para convencer as pessoas por via do exemplo pessoal, sem o sacrifício de terceiros.

Nutro desde sempre (embora quem me conheça saiba que não sou católico praticante), a maior admiração por este Papa, por força do seu percurso de vida e actividade pastoral, mesmo que não apoie todas as suas posições pessoais. Neste preciso momento, a admiração converteu-se em algo mais.

A dignidade da sua morte não é tudo. O que aqui interessa é a sua integridade moral. Afinal, na ética, não é o fim que verdadeiramente interessa, mas sim os meios.

Foi o único que conheci, mas a verdade tem de ser dita: Habemus Papa.

PS: Não sei porquê, esperava ver algo como isto escrito por todo o lado. Tal não sucede: desde críticas à exposição da dignidade pública de um Papa, a comentários sobre uma pérfida conspiração de cardeais anti-eutanásia, já ouvi de tudo, de católicos a ateus. Raios, a mensagem está escrita em letras grandes. Se ninguém a percebe, é porque ninguém quer. O que, em minha opinião, não abona em favor de ninguém.