A Argentina é um país de hemisfério sul, vertente ocidental, mas é preciso lembrar-nos que estamos na América Latina. A maior parte do tempo acho que estou na Europa algures entre a Espanha, França e Itália, e outras acho que estou nos subúrbios dos Estados Unidos.

Resolvi ver a província (nao que Buenos Aires esteja mal, mas e pouco pra dez dias), e para isso fomos todos a La Plata, uma cidade a 70 km daqui que, dizem os guias " é uma fiel réplica da típica cidade argentina". Ora, isto só pode ser verdade se a típica cidade argentina estiver pejada de monumentos e for tao planificada que foi feita por encomenda.

É que a dita cidade é um quadrado urbano (uma estrada de circunvalacao), com ruas paralelas e perpendiculares, estilo versao gigantone da baixa lisboeta, e entrecuzada por diagonais que cortam a cidade. Nos mapas, e vista do ar, parece uma teia de uma aranha maníaco-obsessiva que se apaixonou pela geometria descritiva.

Para adicionar o toque típico, as ruas sao numeradas, e os terrenos fora do quadrados sao milhares de casas geminadas, em ruas tambem elas todas paralelas, perpendiculares ou diagonais, com o mesmo jardim, a mesma piscina e o mesmo jardineiro competente e industrial.

Belissima cidade para viver, e tudo very tipical, portanto. Mas há um pequeno elemento que nos lembra que estamos na America do Sul. A cidade e uma das 10 maiores da Argentina, mas ficamos num dos melhores hoteis que me foi dado ver por 1200 paus a cabeça. A que se seguiu uma jantarada indescritivel num dos 3 melhores restaurantes da cidade (vinho mais caro, prato mais caro, varias vezes os dois, coroado com uma sobremesa inventado por nós, depois distribuido por nós a todo o restaurante e coroado com rodada geral para a mesa dos simpaticos senhores que faziam 50 anos de casados) pela inefavel quantia de 85 pesos, o que dava 21 pesos a cada um, uns fabulosos 6 euros e meio. E, claro, uma volta pela cidade com taxi, para onde quer que fosse, nunca passava 1 euro, no total.

Daí que seja para mim espantoso que La Plata tenha o campeao e o vice-campeao mundial de Tuning. Imaginem um Peugeot 206, estilo Colin McRae, todo cromado à descriçao do freguês, naturalmente rebaixado, com aileron atras, a frente e de lado (também nao sabia que era possivel), couro preto com a imagem do dono estampada, tabelier personalizado e com estofos vermelhos vivo, aquele sistema de som em todo o carro... Mas o fundamental era a luz azul, também já visível em Portugal, mas nunca nesta escala. O carro nao so os tinha a frente (banal), como parecia flutuar (classico, com a preciosidade de as jantes serem do azul das luzes) como, nao sei de que forma, os emitia a sua volta. Isto sem me referir a imitacao de motor de aviao a levantar voo.

Genial nao?

Era o vice-campeao.

A vida e barata, pelo que presumo que nao tenham dinheiro, mas tambem se o que têm o gastam assim, merecem todas as crises e ditaduras militares que lhes aconteceram.

PS: este post está uma merda, longo e sem piada. Mas tou com sono e nao sei o que possa escrever quando estiver no Uruguai.